
Isto é como a vida na selva: é uma luta constante pela busca de alimento, pela protecção do nosso território de caça e do nosso porto seguro. Com a chegada de invasores, temos de lutar com unhas e dentes por aquilo que nos pertence. Umas vezes, entramos em batalhas e ganhamos. Saímos felizes, expulsamos o inimigo e gozamos aquilo que é nosso. Outras vezes, entramos em batalhas e perdemos. Nestas alturas, temos de nos recolher com classe, dar a ideia de que, apesar de termos perdido, não somos fracos. Deixar prometido um outro combate, onde esperamos ganhar, é uma boa solução. Devemos abandonar o campo de batalha com a cabeça erguida, a fitar o inimigo nos olhos, sem nunca lhe virar as costas (não vá o Diabo tecê-las).
Travo sempre as mesmas batalhas, há mais de um ano. Curiosa ou estupidamente, acabo sempre por perdê-las.
És como um leão que foi expulso de um clã. Andas sozinho, em busca dos melhores territórios, atacas quem se atravessa no teu caminho, afugentas quem se tenta aproximar e ajudar-te.
De vez em quando, o teu caminho lá se cruza com o meu e o do meu clã. Nestas alturas, eu afasto o meu próprio clã, o meu próprio porto seguro, para me aproximar de ti e dar-te algum apoio e segurança, para te limpar as feridas que outros abriram. Ao princípio aceitas de bom grado, não me deixas partir, mas depois, de um momento para o outro, mudas completamente. Dá-se início a uma batalha, da qual nenhum de nós sairá bem. É uma batalha horrível, cheia de golpes baixos, feridas e sangue. Mais uma vez, afugento o meu clã. É uma batalha só nossa. Não é preciso pôr mais ninguém ao barulho.
Quando eu perco e tudo acaba, tu vais-te embora, eu volto para junto dos meus companheiros, volta tudo ao normal. Mais tarde, repete-se tudo outra vez.
Limpo as minhas feridas sem deixar que ninguém se aproxime. Quando já não há muito mais para limpar, volto a aproximar-me. Sabe sempre bem ter companheiros que nos limpem as feridas que nós próprios não conseguimos limpar.
Exibo as minhas cicatrizes com orgulho. Para os outros, funcionam como um repelente, para ti, funcionam como um íman. Atraem-te para aquilo que será o doce sabor da vitória, para a certeza de uma batalha ganha, mesmo antes de ela ter sequer começado.
Quando te vir no horizonte, vou fugir, vou-me proteger. Vou acabar por ser direccionada, mesmo que pense que me estou a deslocar sem qualquer rumo definido. Vais-me encurralar e vamos, uma vez mais, lutar, até eu perder. É um triste ciclo vicioso ao qual eu tento fugir sem êxito.
Portanto, quando é que os nosso caminhos de vão cruzar outra vez? Quando é que
não te irei limpar as feridas? Quando é que vamos lutar outra vez?