segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

  - os teus olhos parecem pequenas boquinhas que dizem tudo o que vai na tua cabeça
  Estaquei. Não, eu não podia ser tão transparente. Ele não podia ver-me. Ele não podia ver as minhas dúvidas, as minhas questões, certezas ou constatações. Não podia nem pode! Mas por outro lado, se os meus olhos realmente fossem pequenas boquinhas, então porque é que ele não me responde à pergunta que domina o meu pensamento?
  Aninhei-me no seu colo e olhei-o nos olhos, tentando ver o seu interior, da mesma maneira que dizia fazer comigo. Parecia calmo, com o olhar limpo, sem nada negativo a perturbá-lo. Decidi arriscar.
  - é verdade...? - a minha voz era quase inaudível. No olhar dele apareceu um laivo de receio.
  - o quê? não te percebi. - uma resposta seca. Alguma preocupação. E mais receio.
  - é verdade que... - engoli em seco - que...
  - que...?
  Libertei-me do medo. Tinha de saber. Fechei os olhos, respirei fundo. Ao abrir novamente os olhos fui prendada com um olhar curioso e penetrante mas também um pouco receoso. Exalei com força. Tive um assomo de coragem.
  - é verdade que também estás com ela? é verdade que ao mesmo tempo que estás comigo, estás também com ela? - tropecei nas palavras, enrolei-as todas mas foi um alívio.
  O olhar dele fechou-se, esmoreceu. Franziu o sobrolho, desfez o abraço e não respondeu.

1 comentário:

Mara Alves disse...

like it, a lot!
às devemos mesmo ignorar o resto e ganhar coragem
«mas isso é só às vezes»